terça-feira, março 29, 2016

Só o tempo

Olho estes meses do actual governo com grande curiosidade. Tanto pelo lado dos que o apoiam, como pelo lado da oposição. E fico com uma duvida que está longe de estar esclarecida.
O país está contente com o governo ou contente porque deixou de existir o anterior, hoje numa oposição enfraquecida?
É que são duas facetas muito distintas de uma mesma moeda, que só o futuro permitirá perceber. É que uma representa uma posição positiva - desejar que quem governa seja eficaz - e a outra assume um forte pendor negativo - esperar que tudo corra mal a quem governa - para finalmente ser compensado do que entende ser uma injustiça.
Disse, por várias vezes, que o governo anterior não mereceu a minha simpatia e que considerei que uma boa parte do que lhe aconteceu, se ficou a dever ao seu autismo. Mas é com a mesma franqueza que afirmo os meus receios quanto à capacidade do actual cumprir as promessas que fez. Dou-lhe, contudo o benefício da dúvida até ao fim do ano. 
Depois veremos com o OE de 2017 como é que as coisas decorrerão. Mas faço-o tranquilamente, porque julgo absolutamente inútil o desgaste de pensar que tudo poderia ter sido diferente. Poderia. Mas não foi. É a vida. E só o tempo mostrará quem tem razão!

HSC 

domingo, março 20, 2016

A importância de um nome


Por mais bizarro que pareça, um nome pode ter imensa importância. Em miúda na escola e no liceu todas as professoras e colegas me perguntavam qual o meu grau de parentesco ao aviador que, com Gago Coutinho, fizera a travessia do Atlântico Sul. Mais ou menos envergonhada, lá respondia que ele era o irmão mais velho do meu Pai.
Na Faculdade a coisa amainou, porque um dia me irritei e expliquei que o importante era "eu" e não o apelido que trazia.
Mais tarde quando casei explicitei que o meu nome continuava a ser o mesmo, escandalizando quem na altura entendia que eu deveria adoptar o nome do marido. E, mesmo assim, para muita gente, eu era a Helena Portas, ou seja não era eu.
Felizmente o salvífico divórcio havia de repor a verdade dos factos e durante uns anos, vivi perfeitamente identificada, não sem que, no principio, me referissem como a ex mulher do Nuno Portas. 
Ou porque, posteriormente, este passou a ter várias mulheres na sua vida, ou porque o meu tempo de "ex" se desvaneceu, o certo é que recuperei apelido e identidade. Até que os manos Portas saltaram para a política, se tornaram conhecidos, e eu voltei a ter o peso do nome, por ser a "mãe dos Portas". 
Isto foi-se agravando até que numa apresentação da oradora que eu ia ser, o apresentador terminou o meu currículo, dizendo  que eu era a mãe dos políticos... Aí nem terminou a frase, porque eu saltei da cadeira, e interrompendo-o disse-lhe que para aquele efeito, eu não era nem mulher nem mãe de ninguém. Era só eu. E, quando muito, se quisesse e alguma vez tivesse a oportunidade de apresentar um dos meus rebentos, então referisse que eles eram filhos da Helena Sacadura Cabral!
Curiosamente, a partir de então, já pouco ou nada tenho a ver com o nome Portas. Tanto, aliás, como eles têm a ver com o nome  Sacadura Cabral. 
Finalmente, agora digo que me re-encontrei com os meus. Mas levou meio século a concretizar-se algo que, há muito deveria ser normal entre nós, que é a manutenção do próprio nome, mesmo após o casamento. 
Restos de um machismo que, apesar de muito negado, continua a estar presente...

HSC

quarta-feira, março 16, 2016

Um grande adeus!


"Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus."

                                                       Millor Fernandes


Millor Fernandes sempre se serviu do humor para dizer coisas sérias. Eu também tenho um pouco esse hábito, que serve para que as lágrimas não venham, de vez em quando, embargar a nossa voz.


A morte do Nico deixa-me uma enorme saudade, Sobretudo da alegria e do riso que esteva sempre presente, ao longo de mais de 40 anos que levávamos de amizade. Ele foi, sem qualquer dúvida, o amigo com quem mais ri a propósito de tudo e de nada. E foi das pessoas melhores que conheci do ponto de vista humano.


Porque todos os os colegas já o fizeram não preciso falar da sua vida profissional e da dívida que Portugal tem com ele no campo do teatro, cinema, televisão. Quem me interessou sempre foi o ser que estava por trás de tudo isso. É esse que choro ter perdido!

HSC

segunda-feira, março 14, 2016

O primeiro dos dias que hão-de vir...


No primeiro dia de uma mãe e filho normais, decidimos que o nosso fim de Domingo seria como ele quisesse. Assim, lá repetimos o seu bife do Império de que eu já começo a cansar mas não disse nada e fomos. 
Em seguida a sua opção foi ver o assalto a Londres - não me apetecia mesmo nada, mas a sua companhia valia bem isso - e, digo-vos vim de lá feita num molho de bróculos, tal a violência do filme. 
A principio ainda admiti ser uma história do tipo 007, mas desenganei-me rapidamente. É indubitavelmente um thriller de muita qualidade, muito bem filmado, com um ritmo arrasador. Mas há espectáculos que o meu estômago já não aguenta e esta película pertence ao grupo.
E assim começou o meu primeiro dia dos dias que hão-de vir, em que saio com um cidadão normal que por feliz acaso é meu filho. Foi uma grande prova de amor maternal ter ficado até ao fim da película...

HSC

domingo, março 06, 2016

A realidade e o desejo



São cada vez mais raras as pessoas que aceitam não ver os seus desejos satisfeitos, como se a vida fosse um caminho de rosas e todos tivéssemos direito a ele.
Acontece que os homens não são iguais, pese embora muitas ideologias o defendam. Mas basta olhar a realidade para se ter a noção desta falsidade.
Uns nascem bonitos, outros feios, uns nascem inteligentes, outros pouco dotados, uns nascem ricos, outros pobres, uns nascem em países desenvolvidos outros nascem em zonas miseráveis. E a lista das diferenças não acabaria nunca, porque aquilo que caracteriza o mundo é a sua diversidade.
Por isso, a frase de que todos somos iguais, deveria ter sempre como acréscimo nos direitos e nos deveres. Mas nem sequer isto é verdade porque muitas das diferenças atrás estabelecidas, determinam que nem nesta área sejamos iguais. De facto, para uma mesma inteligência, a norma é escolher o bonito e agradável. Ou para determinados lugares preferir um pobre a um rico. E encontraríamos múltiplos exemplos daquilo que acabo de referir.
Não, não somos todos iguais, Quando muito podemos aspirar a ter iguais oportunidades, porque isso seria o mais justo. Só que para que isso acontecesse era necessário que fossemos todos clones uns dos outros. E não somos. Logo, ideologicamente é uma frase de grande impacto. Porém na prática torna-se inexequível!

HSC