O outono foi e é a minha estação preferida. Acordo cedo e tenho um prazer imenso em sentir os raios solares que despontam e tentam aquecer o meu corpo. Muitas vezes sento-me nesse meu abençoado terraço no qual começo a perceber o início do movimento da cidade que, aos poucos, vai acordando.
Hoje segui a mesma rotina de sempre, mas quando abri as janelas, confesso, não resisti. Enfiei umas calças de lã e uma camisola grossa, meti-me no carro que parei para os lados de Belém e fui passear à borda de água.
Não corri, não o fiz por necessidade de trabalhar o corpo. Pelo contrário fi-lo por necessidade de trabalhar a alma, de me sentir quase só no universo e de sentir que os problemas do país com que as televisões e jornais tentam intoxicar a minha vida, ali não valiam nada. Ali, o que valia mesmo a liberdade de espírito, o ceu azul, os raios de sol, o mar e qualquer coisa que, estando para além de tudo isto, envolvia não só o que víamos, mas, sobretudo, a maneira como víamos. Era algo metafísico, uma presença divina, fosse ela de que natureza fosse.
Fiquei por ali a caminhar cerca de uma hora. Depois parei , bebi um café e dei graças a Deus por estar num local onde o medo ainda me não impedia de gozar de tudo isto. E lembrei os tempos em que, em França, fazia o mesmo, com o mesmo prazer. E não pude deixar de ter muita pena...de quem, por medo, não o pode, agora, continuar a fazer!
HSC