Obedeço muito pouco a critérios rígidos. Gosto da minha liberdade talvez porque ela me foi difícil de obter. Primeiro foram os Pais. Depois foi o marido, que sendo um homem de profunda cultura, tolerava bastante mal quem não pensasse como ele. Tudo era subtil, nada era forçado. Mas, à distância dos anos, penso que essa era, afinal, uma forma de impor os seus pontos de vista, ao deixar-nos com a sensação de que éramos inúteis ou medíocres por não pensarmos da mesma forma.
Hoje tudo me aparece muito claro mas, na altura, foi causador de muito sofrimento e de uma falta de confiança em mim própria, de que só recuperaria com o divórcio.
Na altura, sendo o seu grupo considerado progressista, eu era a reaccionária de serviço. Hoje rio-me porque os que ainda estão vivos, parecem-me de um reaccionarismo atroz, enquistados nas suas glórias passadas e incapazes de acompanhar o mundo actual. Pensam como velhos de um Restelo que já não existe, não percebem as novas tecnologias, mas continuam a insistir em moldar o mundo à sua imagem e semelhança. E ficam felizes quando alguém se lembra de os convidar a dar a sua opinião. Enfim, existem, falam quando não devem e calam quando deviam falar.
A estes opõem-se outros, igualmente velhos, mas que parecem não ter idade. Acompanham as transformações da sociedade em que vivem e não abdicam do gosto de se transformarem com ela. Parece que não têm idade e o seu relacionamento com os jovens só mostra como estão vivos. Sabem fazer silêncio quando é preciso e sabem fazer-se ouvir quando é necessário. São os novos velhos. Que constituem, inegavelmente, um dos pilares do nosso mundo actual. Que os não despreza e antes os sabe apreciar. É um dom poder ser-se assim!
HSC