Decidimos todos que a festa do Rodrigo e da Maria do Carmo não se faria, porque ele tinha partido. Mas não a queríamos desamparada. Por isso enchemos a casa deles de carinho não a deixando meter solitária a chave na fechadura.
Primeiro ela não nos queria lá, mas como não arredámos pés, deitou-se e duas horas depois juntava-se a nós na sala de jantar. Eu percebi nessa altura que, agora, teríamos de ser nós, os seus amigos, a revezar-nos para não a deixar sozinha.
Há lutos solitários, silenciosos, que se arrastam como uma morte viva. Há outros que carecem de presença, de som e de vida. A Maria pertence a esta última categoria, pelo menos, até se re-centrar e aprender a conviver com o som do silêncio. Aquele que vem do soalho, dos móveis que rangem, das vozes na rua. Essa é uma escola dura, a da aprendizagem de viver consigo próprio e de tirar prazer disso.
Sei bem o preço desse caminho e o profundo auto conhecimento que ele pode trazer. Só espero que o amor dos amigos - aquele que nunca me faltou - a compense, a ela, da perda que sofreu!
HSC
1 comentário:
Helena
Existem perdas que não podem ser compensadas, mas existem momentos felizes que nos fazem esquecer essas perdas. Aí os amigos são os aliados para esses momentos.
Carla
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