domingo, março 20, 2016

A importância de um nome


Por mais bizarro que pareça, um nome pode ter imensa importância. Em miúda na escola e no liceu todas as professoras e colegas me perguntavam qual o meu grau de parentesco ao aviador que, com Gago Coutinho, fizera a travessia do Atlântico Sul. Mais ou menos envergonhada, lá respondia que ele era o irmão mais velho do meu Pai.
Na Faculdade a coisa amainou, porque um dia me irritei e expliquei que o importante era "eu" e não o apelido que trazia.
Mais tarde quando casei explicitei que o meu nome continuava a ser o mesmo, escandalizando quem na altura entendia que eu deveria adoptar o nome do marido. E, mesmo assim, para muita gente, eu era a Helena Portas, ou seja não era eu.
Felizmente o salvífico divórcio havia de repor a verdade dos factos e durante uns anos, vivi perfeitamente identificada, não sem que, no principio, me referissem como a ex mulher do Nuno Portas. 
Ou porque, posteriormente, este passou a ter várias mulheres na sua vida, ou porque o meu tempo de "ex" se desvaneceu, o certo é que recuperei apelido e identidade. Até que os manos Portas saltaram para a política, se tornaram conhecidos, e eu voltei a ter o peso do nome, por ser a "mãe dos Portas". 
Isto foi-se agravando até que numa apresentação da oradora que eu ia ser, o apresentador terminou o meu currículo, dizendo  que eu era a mãe dos políticos... Aí nem terminou a frase, porque eu saltei da cadeira, e interrompendo-o disse-lhe que para aquele efeito, eu não era nem mulher nem mãe de ninguém. Era só eu. E, quando muito, se quisesse e alguma vez tivesse a oportunidade de apresentar um dos meus rebentos, então referisse que eles eram filhos da Helena Sacadura Cabral!
Curiosamente, a partir de então, já pouco ou nada tenho a ver com o nome Portas. Tanto, aliás, como eles têm a ver com o nome  Sacadura Cabral. 
Finalmente, agora digo que me re-encontrei com os meus. Mas levou meio século a concretizar-se algo que, há muito deveria ser normal entre nós, que é a manutenção do próprio nome, mesmo após o casamento. 
Restos de um machismo que, apesar de muito negado, continua a estar presente...

HSC

20 comentários:

Teresa Diniz disse...

Concordo totalmente.
Felizmente, esse hábito começa a cair em desuso.

Virginia disse...


A mim aconteceu-me perder a identidade ao sair da capital. O meu nome de solteira, do qual me orgulhava e ainda orgulho perdeu-se para sempre, pois durante 30 anos vivi no Porto com a minha identidade de casada e apelido do meu marido, ficando para sempre ligada à sua família.
Quando comecei a pubicar projectos escolares para a Porto Editora, acharam que era melhor adoptar o nome por que era conhecida aqui no Norte - havia pessoas em Lisboa que me conheciam, mas só percebiam que a co-autora dos livros era eu quando me viam nas apresentações dos livros ou em fotografias.
Só percebi o erro que tinha feito ao rejeitar o nome do meu Pai, conhecido em toda a Lisboa, quando já era tarde demais. Por outro lado a verdade é que o meu nome de professora e autora foi criado por mim, não era filha, nem mulher de ninguém, pois o meu marido, como juiz não queria ser conhecido, e eu é que era mais popular. Quando me divorciei, mantive o meu nome de casada, nada tinha contra, ninguém me reconheceria com outro.
Até que os meus filhos cresceram, graças a Deus, com valor próprio e se tornaram eles próprios bem sucedidos. Hoje algumas pessoas tb me identificam como a mãe do João Barros, mas fico orgulhosa e não me importo nada...para um filho ser conhecido, é preciso que os pais tenham contribuído para isso....e não é pouco.

Helena Sacadura Cabral disse...

Virgínia
É o que eu penso dos meus Pais. Para que eu seja conhecida a eles o devo. Por isso é ao seu nome quero prestar homenagem. E nunca será suficiente, pelo tanto que lhes devo!

Anónimo disse...

🌷🌷🌷

Anónimo disse...

Gosta dos ares e eu gosto dos mares.Mas m-ares também tem ares.
Afinal,que seria dos ares sem os mares e vice versa?

http://youtu.be/aI3yNckfSvU

O2 para si com ares e mares

:-)

Anónimo disse...

Gago Coutinho e Sacadura Cabral foram dois Heróis geniais.
👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

Virginia disse...


Os pais ajudam q.b. - no meu caso éramos oito filhos, não será bem o seu caso- mas muitas vezes manter o nome de solteira pressupôe continuar a linha da família, servindo-nos do nome já feito para nossa própria promoção. Nunca quis isso e muito menos fora da capital. Conquistei a minha própria identidade a pulso. Hoje quando digo que o pediatra MC é meu irmão, as pessoas abrem os olhos de espanto!

Boa semana!

Anónimo disse...

E não será também resquícios de machismo a ordem dos apelidos dos filhos? Porque é que o "nome de família" tem que ser o do pai? Os meus filhos tem os apelidos da mãe no fim, com alguma relutância inicial do pai, diga-se...

Paula Almeida

Anónimo disse...


Helena
Penso igual, sermos conhecidos pelo o nome de quem nos deu a vida, quando casei nem pensei nisso, fiquei com mais um nome. Mas assino com o meu e quando menciono o meu nome é sempre o de solteira, é com ele que me identifico. A Maria Barroso manteve o seu nome de solteira, acho admirável para aquela época.

Carla

Anónimo disse...

Helena Sacadura Cabral,o nome de uma Sra Diva e não há porta que se lhe feche.
Para si,todas as portas se abrirão...



Janita disse...

Concordo em absoluto!
Sejam importantes ou não, os nossos apelidos, aqueles mesmo nossos, os que trazemos agregados ao nome próprio desde que nascemos, devem ser mantidos e respeitados!
Eu, descendo de gente humilde e anónima, mas orgulho-me muito do meu "Moreno".

À Drª Helena só lhe faltava ter um cachorro para ser "A dona do Bobi"? Era o que mais faltava!!

:)

PS - Agora é que atinei com o que é o Estado da Nação. Valha-a Deus! Poderia dizer abertamente que é o seu segundo blog...Andei às aranhas!!

Anónimo disse...

Ahhhh, peço imensa desculpa, Drª Helena, que cabeça a minha!

O nome do blog é 'Estado da Arte'. Com iniciais maiúsculas que eu não faço a coisa por menos!

Janita

Helena Sacadura Cabral disse...

Ó Janita eu tenho seis blogues. Por isso este nunca será o segundo. Se for ao meu Fio de prumo , no lado direito tem os meus blogues. Se clicar em cima vai ter a cada um deles!

Helena Sacadura Cabral disse...

Ó Anónimo das 6.24 da tarde o seu humor está afinadíssimo.
De facto, só algumas portas é que se me fecharam. Mas foi por estarem perras!

Anónimo disse...

Uma semana Santa e com santos ares sempre ao seu redor.

http://youtu.be/If9_qhBbUZE

:-)

Anónimo disse...

A 6:24 diz:
Uma Mulher-chave,abre qualquer porta...mesmo as perras ou com bicho :-))

:-))

Anónimo disse...

Minha Mãe tem a sua idade. Ao casar com o meu Pai manteve o seu sobrenome, com muito orgulho (coisa pouco normal para a época). Passados anos, sem fazer nada...o sobrenome do meu Pai "apareceu" no final do nome da Mãe, no BI. Ela ficou furiosa, não era o nome dela. Para alterar foi uma confusão tão grande e como minha Mãe se encontra doente ficou assim como está. Mas que esta ficou triste ficou.
Eu concordo com ela.
Anonima

Anónimo disse...

Quando os ares e os mares fluem

http://youtu.be/eDkpVwrhYfo

Ghost

Anónimo disse...

Fly to the moon
..................__/\__
...............`==/ \==`
....________/__\________
.../___________________\
...._||__||__/.--.\__||__||_
..../_|__|__(.><.)__|__|_\
................_/`--`\_
................(/------\)

:-)

Anónimo disse...

Fly
http://youtu.be/ARHVR9BkOWU

:-)